Entre marcas e lembranças
Glória Ferreira
texto de apresentação exposição na Galeria Maria de Lourdes Mendes de Almeida
Começaria tudo outra vez, se preciso fosse... é o modo que, talvez, Vera Bernardes tenha encontrado para iniciar nova experiência com as artes visuais, após anos de uma bem sucedida carreira como designer gráfico, muito próxima à arte e aos artistas – como, por exemplo, quando dirigiu a coleção Arte Brasileira Contemporânea, nos anos 70/80, na Funarte. Na sua práxis atual mantém luta constante contra o cânone do design, estabelece modos de “driblar o olho”, que tende a buscar a clareza formal e a racionalidade. Com entusiasmo e dedicação ela empenhou – se em buscar embasamento na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde fez os cursos com Charles Watson e outros professores. Antes fotografava, e em contato com Amador Peres desenvolveu novos modos de ver a imagem.
Nesta sua primeira exposição individual, intitulada Lembranças, apresenta pinturas, bordados e uma gravura. Nos bordados o desenho é feito com fios retirados da borda do linho ou da lona, e segue, ao acaso, os amassados que se fazem no tecido. Mapas, título dos trabalhos, “revela a Lembrança do amassado que originou o desenho bordado”, assinala a artista.
É da observação desses trabalhos que surgem as pinturas. A tela é disposta em uma conformação tridimensional, trabalhada em aerosol, e depois estendida. O título Sombras revela, como diz ainda a artista, “a Lembrança da vida em três dimensões que a originou”.
Outros trabalhos surgem das formas deixadas por essas pinturas sobre a base em que são feitas, como se fora uma herança, a marca de uma ausência. O titulo Marcas “revela a Lembrança do corpo que lá esteve e não está mais”, afirma Vera.
Memento é a gravura que abre a exposição... Com o “lembrete” Remember you shall die, escrito como código de barras, ela se refere à Holbein, tendo o mesmo tamanho do crânio da célebre pintura Embaixadores. Se este quadro evoca a finitude humana com sua figura anamórfica, a gravura, com seu texto também deformado, tal qual uma vanitas contemporânea, é bastante explícita, assim como o código de barra não deixa de remeter ao consumismo da arte.
Com exceção do título da gravura, os títulos da séries se referem à visualidade dos trabalhos. Lembranças, reminiscências de processos, estratégia tão importante no trabalho da artista.
Projetos futuros? São muitos. Todos na pasta “vagas ideias”...
jul. 2013